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Em Sines, desde 4 de Julho de 2003, ao fundo da avenida principal da cidade, onde acabam os prédios e começam as vivendas, volta à esquerda e... chegou!

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quarta-feira, novembro 22, 2017

Gonçalo Naves inaugura A das Artes Editora


Livraria premiada inaugura Editora com jovem autor

A livraria mais premiada a nível nacional nos últimos quatro anos, assume, a partir do próximo sábado, a chancela editorial com o seu nome.

A das Artes Editora estreia-se com o segundo romance de um jovem autor, Gonçalo Naves, que aos 18 anos publicou autonomamente a sua primeira obra, Bem-vindos a esta noite branca, de temática não muito usual para quem com esta idade se dedica às letras. Velhice, solidão, abandono eram os temas centrais da obra.

Com É no peito a chuva, o novo trabalho, Gonçalo, agora com 20 anos e a cursar o terceiro ano de Direito, vai evidenciando os meandros e perplexidades de uma dicotomia campo/cidade construída por personagens que surgem e se vão, como o camião do lixo madrugador, ou a locomotiva que o não é.

Excerto:

Sempre chegam as duas horas da madrugada e um fiozito de barulho começa lento no escuro arrastando-se aos tropeções, um som próximo e distante entre o negro severo alcatrão e todos os ouvidos do bairro, porque a bem ver não há peito capaz de descansar nas horas em que sem dar cuidado a solidão ganha uma força imbatível. É a hora em que me ergo me aconchego à janela e para lá da janela uma locomotiva que não é locomotiva nenhuma salpicando-me os vidros de cores intermitentes, num chiar as rodas dos caixotes arranhando a calçada e de quando em quando há uma pedrita de extremidades mais salientes e, então, o caixote ameaçando um trambolhão dois trambolhões três e vai daí num vigor de ferro implacável delicado sem dar sua conta uma mão imobilizando-o em equilíbrio, mão que está um braço para trás do corpo, enquanto a locomotiva que não é locomotiva nenhuma ergue uma tenaz informada sobre as sensibilidades dos caixotes elevando-os tal qual a gente eleva um filho um sobrinho um neto, apresentando-os ao mundo. É a hora dos senhores do lixo e os senhores do lixo corteses perante a noite, com ínfimo engenho levantam os mapas da escuridão num trabalho que é feito com mãos com toque de artesão, imbatível fugaz pressa em terem as coisas feitas com propriedade que não dão conta de mais nada, não se agitam com movimento algum por saberem numa sabedoria quase inata de que a noite pode nada contra eles. É gente que não existe para nós, não aquece nem arrefece, tanto se nos dá como se nos deu, que quando com eles partilhamos uma rua nunca se atrevem no nosso caminho e se por infeliz acaso as nossas trajetórias são sobrepostas o que acontece é passarmos por dentro deles não tocando em coisa nenhuma. As bocas cerram-se para sempre e só os peitos falam, só os nossos peitos comunicam e agora me despeço deles num submisso silêncio vendo-os pularem para cima da locomotiva de abalada quedando tudo numa beleza mais triste.
 
A das Artes recebeu o 1º Prémio de Livraria Preferida dos Portugueses nos anos de 2015 e 2016; Em 2017 foi contemplada com o 2º Prémio; Desde 2014 que acumula as distinções com o galardão Melhor Atendimento (2014, 2015, 2016 e 2017).

Em Sines desde 2003, A das Artes já recebeu mais de cem nomes grandes das artes e letras, de Sérgio Godinho a Robert Wilson, Mia Couto a José Luís Peixoto (que voltará a 19 de Dezembro, pelas 18 horas), João Lagarto, David Murray, António Chaínho, Peste & Sida, Valter Hugo Mãe ou o recém premiado com o Prémio Leya, João Pinto Coelho que, aliás, ali irá apresentar o romance vencedor Os loucos da rua Mazur já no próximo dia 2 de Dezembro, pelas 11 horas da manhã.


O lançamento simultâneo da A das Artes Editora e do seu primeiro livro É no peito a chuva, de Gonçalo Naves, está marcado para sábado, 25 de Novembro, às 16 horas, no Centro de Artes de Sines.